maio 23, 2008

O Erro de Pacheco!
por Paulo Veiga da Fonseca

Sempre que posso oiço o meu companheiro Pacheco Pereira (PP). Não faço parte da massa humana militante, não creio que seja de grande dimensão mas que existe e cada vez mais activa, dirigida por um conjunto de destacados militantes que vêem nas intervenções de PP a grande causa dos problemas internos do PSD. Oiço PP para poder enriquecer a minha reflexão sobre o partido, o país e o modo como o partido se deve colocar ao dispor dos portugueses.

Deste modo, sinto-me livre para reforçar as minhas convicções e dar conta das minhas posições, de simples militante, nas diferentes actividades do partido, concordando ou discordando de outros companheiros, mesmo dos que usam o palco mediático para emitir as suas opiniões tão válidas como as de qualquer um de nós.

No que respeita a estas directas nunca tivemos dúvidas sobre o posicionamento de PP, nem quanto à possibilidade do usufruto da sua condição de comentador na Quadratura do Circulo no apoio à companheira que apoia. Contudo, ontem a meu ver PP perdeu o pé na análise que efectuou sobre o processo das directas do Partido.

Agarrou-se a uma sondagem, que já foi escalpelizada por vários fóruns, tentando com ela justificar a eleição de Manuela Ferreira Leite (MFL), em detrimento de Pedro Passos Coelho (PPC) e Santana Lopes (SL). A meu ver PP cometeu um erro de demagogia impensável e que ficará marcado no seu património de doutrina política.

Vejamos:

O dado mais importante deste estudo de opinião reporta ao período do trabalho de campo: entre 7 e 9 Maio. A meu ver completamente desfasado da realidade que o processo eleitoral cria. Com os candidatos a apresentarem-se ao colégio eleitoral, com a cobertura do Média (fraco e que por acaso PP nem critica porque quando menos cobertura melhor para MFL atendendo aos níveis de notoriedade imediatos relativamente a PPC por exemplo) e com a sua ida para o terreno no debate com os militantes estes dados são substancialmente alterados. Isto só aconteceu com maior intensidade depois do período a que reporta a sondagem.

Mas com esta posição PP refuta os seus próprios posicionamentos recentes. Uma das suas preocupações é o afastamento do partido relativamente ao eleitorado. Bom, é sempre interessante fazer uma análise mais aprofundada sobre o que se passava há 8 meses atrás: Uma sondagem realizada pela Marketest em Setembro de 2007 (http://www.clipping.mediamonitor.pt/pdfTemp/etn_4247278_527_0.pdf) dava como resultado que Menezes era o favorito do eleitorado do país mas que Mendes seria o desejado pelos militantes do partido (com o “Aparelho” como sempre se disse que Mendes dominava). Como sabemos, a oposição de PP a Menezes já era bastante agressiva (no sentido político), mas na altura as justificações para que o partido não fosse atrás da opinião pública prendiam-se com o populismo que era indesejável, com as chegadas sebastianinas e contra os “notáveis” que não saiam do silêncio comprometedor com um “bloco central” da sociedade (quantos estarão agora ao seu lado), etc.


Com a vitória de Menezes os discursos de PP são os que se conhecem. Estou perfeitamente à vontade sobre este assunto porque votei Mendes e em caso algum participei em acções do partido durante a vigência da última direcção.

Esta posição de PP agrava-se porque ela abre-se ao paradoxo de deixar o partido nas mãos da opinião pública. E quando isto acontece, entramos no limiar do populismo, deixando que o partido seja gerido de fora para dentro, algo impensável na doutrina de PP. Então para que serve o Partido? Porque não fazemos umas directas à americana, em que o colégio eleitoral se inscreve para o efeito independentemente de serem militantes ou não?

Não se pode criticar uma “aparelho” assente nas estruturas constituídas por militantes que fazem a sua actividade política diariamente, concordo que muitas vezes com o objectivo de serem recompensados com cargos ou lugares políticos remunerados – não que isto seja totalmente imoral mas seria outra análise - mas sobretudo em momentos eleitorais em que sair à rua , colar cartazes ir a comícios é cada vez mais um frete para muito “notável”. Não se pode tratar os militantes do PSD como por vezes PP o faz. Se tal “aparelho” não fosse um elemento importante para o partido e para os candidatos então não assistíamos à necessidade de MFL colocar no seu site os apoios que tem do “aparelho”, já para não falar de um ou outro que lhe estão mais próximos especialistas em call centre e “sindicatos de voto”, aliás que o próprio PP já referiu como sendo o exemplo do que de mau existe no PSD. Portanto, é muito perigoso PP vir defender que se MFL vencesse teria sido “a liberdade de voto do militante”, contrapondo a vitória de PPC como a vitória do tal “aparelho”.

Sejamos claros. A convicção dos nossos apoios está inerente aos valores e à visão que cada candidato per se transmite ao partido e daí partilha com a sociedade criando, desta forma, uma alternativa sustentada e credível à governação.

Colar os candidatos a quem os apoia, em quem está próximo, é redundar o debate e menosprezar o cerne do confronto político: os projectos de cada um para Portugal.

Para terminar, vejo neste confuso momento de PP, um novo posicionamento para os dias seguintes às eleições de 31 de Maio. Ao descolar para esta deriva de diluir a estratégia do partido na vontade popular, culpando a militância – certamente cega e acéfala – pelo insucesso eleitoral de MFL para a liderança do partido, PP coloca-se na primeira linha dos que colocarão em cheque a nova liderança ao primeiro deslize.

A credibilidade do partido começa em cada um de nós. No dia seguinte ao voto dos militantes gostaria que PP estivesse na primeira linha unida em defesa do partido nos próximos embates eleitorais, tal e qual como eu, militante de base, estaria se MFL vencesse. A alternativa é um compromisso de silêncio público e uma obrigação de debate nos fóruns internos.

Paulo Veiga da Fonseca

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