março 22, 2008
Pedro Braz Teixeira disse...
A política deve guiar-se por princípios estruturantes e não ser casuística.
Tomemos o eixo intervencionismo-liberalismo, um dos mais relevantes na localização ideológica. Este eixo deve ser visto como uma linha contínua e não como dois pontos extremos.
Até meados dos anos 70 do século passado havia um predomínio do intervencionismo.
Nixon (presidente Republicano, conservador) afirmou em 1971: “Agora sou um keynesiano” [intervencionista]. Nesta década de 70 vai dar-se uma mudança tectónica, com o liberalismo a passar a ocupar a mó de cima.
Primeiro com o reconhecimento aos seus teóricos, com o Nobel da Economia (recém-criado em 1969) a ser atribuído a Friedrich von Hayek (1899–1992) em 1974 e a Milton Friedman (1912-2006) em 1976.
A passagem à prática política dá-se com a vitória de Margaret Thatcher nas eleições legislativas no Reino Unido em 1979.
Esta onda liberal vai espalhar-se a todo o mundo. Veja-se o exemplo muito relevante das privatizações que percorreram toda a Europa, Ásia, América Latina e África. Também os ventos da globalização (no sentido estrito de liberalização de trocas comerciais) resultam deste movimento tectónico liberalizador.
Por isso um socialista poderia dizer, que hoje somos todos liberais. Em Portugal o esquerdismo serôdio do 25 de Abril atrasou esta transição e só a revisão constitucional de 1989 acabou com a irreversibilidade das nacionalizações de 1975 e permitiu o início das privatizações e liberalizações consequentes (desmantelamento de monopólios).
Entretanto quase todos os partidos políticos portugueses acompanharam esta mudança tectónica e são hoje muito mais liberais do que eram em 1976, para saltar por cima dos desvarios do PREC.
A excepção mais relevante é o PCP, que gostaria que o tempo tivesse parado algures antes da queda do muro de Berlim.
Dado este enquadramento, é inadmissível que o PSD tente ultrapassar o PS pela esquerda, defendendo ainda maior intervencionismo que os socialistas.
Neste momento o PS está com uma agenda reformista (ou talvez pseudo) que é contra-natura para eles, mas que está a ocupar o lugar tradicional do PSD. Isto está a colocar um problema de identidade ao PSD.
Se o nosso partido, em vez de afirmar de forma mais nítida a sua identidade tradicional (que em parte o PS está a usar como travesti), tentar ultrapassar o PS pela esquerda, só agrava a crise de identidade. Seria como a luta de dois travestis, ambos pouco convincentes e um caos para o eleitorado.
Mesmo quem adopta uma agenda intervencionista, deve fazê-lo de forma estruturada e não casuística. Aqui o princípio geral deve ser, não o de apoiar um bem ou serviço, mas sim o de apoiar pessoas.
Intervir no mercado de determinado bem, tem dois tipos de problemas. O primeiro é, desde logo, a escolha do próprio mercado, que pode surgir muito mais do capricho do legislador do que correspondendo a uma verdadeira necessidade prioritária.
Veja-se o ridículo folhetim em curso sobre a descida do IVA nos ginásios. Imagina que algum dos que recebem a pensão mínima frequenta ginásios? Ou os desempregados?O segundo problema é que se gasta imenso no subsídio a quem não precisa.
Quando o foco da intervenção é um certo bem ou serviço e não as pessoas, acaba por se gastar muitos fundos em todos os que iriam aos ginásios com o IVA normal.
Vai-me desculpar mas o mercado que escolheu tem estes dois problemas. Talvez o afecte a si pessoalmente, mas não deveria ser uma intervenção prioritária.
Já pensou que os portugueses mais pobres, os mais necessitados de todos não têm qualquer crédito bancário?Neste caso o Estado teria que subsidiar as taxas de juro em geral, o que tenho ideia que até seria ilegal no quadro do euro.
Mas imagine que o governo intervinha pela porta do cavalo e dizia à administração da CGD para praticar spreads mais baixos do que os outros bancos. Isto seria uma distorção da concorrência, com a CGD a roubar clientes aos outros bancos e a precisar de mais capitais próprios (ainda no final de 2007 a CGD pediu mais 150 milhões de euros ao Estado).
Ou seja, o Estado passava a ter mais fundos investidos na CGD e a receber lucros menores: um péssimo negócio.
Mas a história não ficaria por aqui. Os outros bancos iriam certamente protestar pela concorrência desleal e forçar a intervenção do Banco de Portugal e eventualmente da Autoridade da Concorrência.
Que provavelmente proibiriam a CGD de continuar com essas práticas e lhe aplicariam uma multa pesada.Conclusão: o melhor é o Estado receber lucros elevados da CGD e usá-los com as mais necessitados e não andar a intervir em mercados onde existe concorrência e os preços, por mais elevados que sejam, reflectem as condições de mercado.
Sim é este tipo de comentário político que queremos.
Como é o tipo de respostas que deu que queremos ver aqui cada vez mais.
Chegou a altura de debatermos as nossas convicções e opções. E por isso seja bem-vindo!
No que concerne à sua resposta: sim , já ouvi falar em tudo o que referiu. Mas gostaria é que no final rematasse com uma conclusão.
Este episódio, que foi agora mais reforçado pela banca na generalidade inclusive o Presidente do BdP, faz lembrar os actos de gestão que muitos desses bancos utilizam, que é o emagrecimento dos seus quadros médios, como forma de redução de custos e no final poderem obter os lucros apresentados, darem indemnizações que todos conhecemos aos quadros superiores, etc.
No meio do "deve" e "haver" onde colocamos as pessoas numa gestão com ética?Mas a questão central é mesmo a que coloquei. Devemos aceitar que com os maiores lucros alguma vez alcançados pela banca do Estado, devam permitir que a mesma venha, como estratégia de defesa dos seus lucros aumentar as dificuldades das famílias portuguesas no que concerne aos empréstimos à habitação e ao consumo anteriormente adquiridos e no impacto que vai ter na vida económica nacional com o efeito dominó que provoca?
Que outros caminhos se poderiam seguir?
Qual a importância da Banca do Estado como alavanca de recuperação dos níveis de confiança dos portugueses?
Venham aqui e debatamos.
Paulo Fonseca
Pedro Braz Teixeira disse...
É este o tipo de comentário político que queremos?
Preferia outro tipo de gestão, que em vez de lucros recorde desse prejuízos record?
Já ouviu falar na moeda única?
Não sabe que quem fixa as taxas de juro referência é o BCE?
Não sabe que quem fixa as taxas Euribor é o mercado interbancário da zona do euro?
Não sabe que os bancos portugueses se financiam neste mercado com spreads crescentes devido quer à crise do suprime, quer ao facto de a dívida externa portuguesa já ter ultrapassado os 80% do PIB?Não percebe que a CGD se enquadra num mercado bancário nacional onde, por força das condições gerais anterores e as específicas portuguesas, os spreads subiram de forma generalizada?
Na sequência de um post que foi colocado sob o título : "EM DEFESA DE UMA SOCIAL-DEMOCRACIA ISTO NÃO PODE SER POSSÍVEL." e que abordava a questão da estratégia que a Caixa Geral de Depósitos apresentou na mesma conferência de imprensa em que informou o país dos seus resultados de 2007 - os melhores de sempre da CGD . Nessa estratégia o novo presidente desta instituição do Estado dava conta da decisão de onerar mais os seus clientes no que dizia respeito aos spreads e taxas a cobrar nos empréstimos à habitação e ao consumo.
Mas como dizia na sequência desse post recebemos uns contributos pela via de "comentários" que me pareceram bastantes pertinentes e com interesse para que se possa desenvolver algum debate sobre o momento real em que o PSD se movimenta e tenta reencontrar, mais do que o seu caminho, a sua essência e causa.
Desse modo, é intenção nossa em colocar os comentários ocorridos em post para que com a sua leitura os militantes da secção B possam apresentar as suas opiniões e sugestões.
Esta nossa intenção tornou-se mais actual atendendo que no debate quinzenal com o governo o líder do Partido Comunista, também, colocou esta questão da CGD ao Primeiro-ministro que respondeu de uma forma evasiva à questão.
Existe um rio imenso que nos separa do PCP, estamos certos que ele não visita o nosso blog, contudo não deixa de ser interessante que este tema tenha sido levantado aqui quase em primeira mão e que tenha sido um nosso "antípoda" político a levantar esta frente de debate com o Governo.
Leiam por favor os posts e gostaríamos que aparecessem outras abordagens, nomeadamente, de quem esteja ligado à sociologia, aos fenómenos de consumo, à assistência social e claro mais economistas.
Paulo Fonseca
No debate quinzenal que decorreu esta semana na Assembleia da Republica, o primeiro-ministro José Sócrates quis marcar a agenda e o debate com o anuncio de uma da redução em 50% das taxas moderadoras da saúde para idosos com mais de 65 anos (e que não sejam isentos).
Uma medida que foi preparada para responder à constante insatisfação dos portugueses à política de saúde que tem sido desenvolvida pelo governo socialista, na sequência da mudança do ministro Correia de Campos pela médica Ana Jorge e num travar, conjuntural, da estratégia de encerramento de serviços.
A questão foi de pronto desmontada pela bancada do PSD. Esta proposta é pura medida pré-eleitoral de quem sente que está em queda para as eleições de 2009.
Não está em causa se esta medida poderia ser positiva, englobada numa política concertada, planeada e sustentada de melhor justiça social. Mas não é.
Esta medida vem contra todas as decisões tomadas, anteriormente, pelo executivo Socialista para este escalão etário como sejam: a redução da comparticipação dos medicamentos normais e genéricos, o encerramento de Centro médicos de proximidade muito importantes para uma população idosa com parcos meios económicos.
Em resposta o Primeiro-Ministro Sócrates , comete a gaffe do debate. Esta medida só atinge pouco mais de 25% dos Idosos e estes são os que têm mais posses financeiras ( melhores do que uma faixa larga da população activa).
O PSD sempre tem defendido uma discriminação positiva nas questões que envolvam os apoios sociais aos portugueses mais idosos ou com maiores dificuldades económicas.
Neste caso mais uma vez o Governo mostra que o seu mundo cor-de-rosa não tem qualquer preocupação social. Só olha para um objectivo: a sua reeleição para governar em 2009.
Cabe ao PSD mostrar aos portugueses que temos uma nova política para a saúde, mais justa, mais virada o para servir com melhor qualidade qualquer cidadão em qualquer parte do país.
Só assim , sendo diferentes, podemos dizer ao portugueses que podem contar connosco para 2009.
Paulo Fonseca
março 20, 2008
Em 2006, com o início de mais um ciclo autárquico após as eleições de 2005, a Câmara Municipal de Lisboa estabeleceu com as juntas de freguesia de Lisboa um protocolo para a delegação de um conjunto alargado de competências.
Este processo de delegação de competências tem uma longa tradição em Lisboa e tem um significado muito importante para as juntas de freguesia de Lisboa quer do ponto de vista financeiro quer do ponto de vista da responsabilidade pela intervenção em matérias importantes para a vida dos respectivos fregueses.
No ano de 2006 tive a responsabilidade da elaboração, negociação e concretização dos protocolos de transferência de competências para as juntas de freguesia. Foi uma tarefa que me foi confiada pelo então presidente da câmara – Prof. Carmona Rodrigues, em que me empenhei com a convicção de que as juntas de freguesia podem, em muitas áreas, desempenhar de forma mais eficaz do que a câmara, diversas tarefas. Esta era, aliás, uma realidade que conhecia muito de perto quer pelo contacto com muitos autarcas das freguesias, quer pela minha própria experiência autárquica a esse nível.
Prosseguindo o aprofundamento do relacionamento entre as juntas de freguesia e a câmara municipal, aumentaram-se as competências, aumentou o volume de transferências e, em diálogo com os presidentes de juntas de freguesia, foram definidos novos critérios para a atribuição de meios que visavam encontrar um modelo mais transparente e o reforço da responsabilização das partes através de mecanismos de avaliação do desenvolvimento dos protocolos. Foi um processo nem sempre fácil mas que terminou com um acordo entre as partes envolvidas. Foi um passo que considero importante na melhor gestão de meios financeiros que, em última análise, são dos munícipes.
Na sequência das eleições autárquicas intercalares de 2007, com a vitória do PS e a coligação com o Bloco de Esquerda, o presidente António Costa impôs a interrupção dos protocolos em vigor para o mandato autárquico de quatro anos da câmara e das juntas de freguesia.
Infelizmente, na minha opinião, não foram devidamente defendidos os compromissos firmados entre a Câmara Municipal de Lisboa e as juntas de freguesia da cidade. Foi um património que tinha sido adquirido e que não foi devidamente salvaguardado. As juntas de freguesia perderam um quadro de estabilidade já adquirido e a cidade perdeu um processo que já decorria em “velocidade cruzeiro” e que estava já em fase de aprofundamento e alargamento.
Apesar do retrocesso verificado no relacionamento entre a câmara e as juntas de freguesia em matéria de delegação de competências, foi possível garantir o compromisso do presidente da câmara quanto à manutenção do valor das transferências da câmara para as juntas de freguesia. Esse compromisso foi materializado no Orçamento da CML para o ano de 2008 através de uma proposta com esse objectivo em que participei e que tive oportunidade de subscrever.
António Prôa
março 19, 2008
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Política com sentido –
1- Não pode aceitar de lugares políticos relevantes da gestão PS/BE;