março 26, 2008

CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS IV

Neste mundo global as realidades sociais, políticas e económicas sofrem mutações constantes que criam cenários com variáveis completamente diferentes de década para década. Vivemos, diria de há 10 anos para cá, numa nova dimensão sócio-política. Hoje falar de esquerda e direita é "fato" que não se veste no panorama partidário como nos anos seguintes à revolução de 1974.

O PPD nasceu baseado numa matriz política bem definida para o momento concreto da sua criação. Num novo contexto social que emergia duma convulsão revolucionária e na qual a mensagem e as causas, a sua maioria transportadas da ala liberal, apresentadas pelo PPD ganhavam receptividade por parte de uma população de homens e mulheres que vinham da classe média trabalhadora, universitária e empreendedora.

O próprio partido adaptou-se, anos mais tarde, para responder aos anseios de modernidade, de desenvolvimento económico e educacional, que corporizavam a legitima aspiração de uma larga maioria de um povo em integrar uma Europa Unida económica e socialmente. O PSD surge como o Partido capaz de reformar o Estado e a sociedade. Abrindo o mercado, apostando na revitalização da força económica do país, apoiando o empreendorismo do tecido empresarial português, em particular das pequenas e médias empresas, apostando num maior acesso ao ensino superior como forma de incrementar a qualificação das novas gerações, apoiando os jovens com algumas políticas financeiras, como foi o caso do crédito jovem bonificado. Acreditou na liberdade da imprensa abrindo a comunicação social à iniciativa privada.

Estávamos perante um PSD mais reformista, mais liberal. Há quem diga um PSD mais à esquerda .

Com sucesso mas, estou certo, também com erros , alguns dos quais, que contribuíram para que o país chegasse ao ponto que conhecemos.

Esta visão do que foi para mim o PPD/PSD de 74 a 95, vem justificar a minha posição relativamente ao posicionamento do Partido para os novos tempos que estamos a viver.

A nossa matriz reformista e social-democrata , com valores e princípios que prezam "the freedom to choose" da iniciativa privada, mas também, o direito à vida, à educação, aos serviços de saúde de qualidade e à liberdade de expressão ( como se diz no texto de apresentação deste blog), deverão ser traves inabaláveis.

Penso que não somos um partido de "direita" como a comunicação social insiste a referir-se ao PSD. Somos um partido de características muito próprias, somos híbridos com diz Pacheco Pereira, e gostaria que os sociólogos e teóricos políticos um dia pudessem identificá-las de modo a definirmo-nos "taxonomicamente" numa nova nomenclatura, que fuja à dictonomia direita/esquerda.

Dito isto, digo que sim! Que devemos levantar bandeiras e causas de "esquerda". Não para ultrapassarmos o PS por esse lado. Mas porque temos que entrar por "esse lado". Temos um povo à nossa espera. Que aguarda um PPD ou PSD que lhes traga uma mensagem que assente:

  • num novo paradigma económico para o país bem definido no sentido e no objectivo;
  • que venha responder às necessidades da vida real. Daqui , não de Bruxelas, ou das estatísticas que têm o seu valor estratégico, concordo, mas que muitas vezes estão deslocadas da realidade social.
  • que assente num Estado mais pequeno mas com funções mais dirigidas para a definição de estratégias e causas nacionais, impulsionador da iniciativa privada com políticas económica-financeiras de apoio concretas.
  • num Estado que devolva segurança e justiça. Segurança Social, Segurança na prestação de bons serviços de saúde para todos, Justiça fiscal, justiça social.

A notícias caem todos os dias nos nossos ouvidos. As taxas de referência Euribor sobem a níveis mais elevados, são 100.000 as famílias em colapso devido aos créditos à habitação e ao consumo.

100.000 famílias. Entre 300.000 a 400.000 pessoas directamente afectadas.

Quantas mais indirectamente?

Muitas são trabalhadores no activo, outros fazem parte dos 7,8 % de desempregados.

Numa economia de mercado a existência de cartéis não é possível. Seja nas mercearias da minha rua, seja nas petrolíferas ( do tal mercado liberalizado por nós PSD), seja na banca.

A lei da concorrência e a vitalidade dos mercados não são compatíveis com a auto-protecção corporativa.

E assim sendo, não deveria o Estado usar a sua capacidade correctiva destes "desvios"? Este assunto não é comparável ao pormenor do IVA a um serviço ou bem especifico. Estamos a falar de um mercado que tem consequências, segundo me parece óbvias, em diferentes sectores de actividade do país e nos próprios custos sociais que Estado terá que absorver.

Seremos nós, os nossos economistas, capazes mais do que rever a história relançar um novo paradigma económico?

Estaremos condenados a não "inventar" nada porque já tudo foi "inventado" lá fora?

O PSD sabe fazer bons diagnósticos, mas não é isso que nos leva a dirigir o país. A chave está em arranjar novas soluções.

Se não formos nós, alguém o fará por nós.

Paulo Fonseca


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